Os Sapos e o Sino
4 de maio de 2012 por Montini
Era uma vez uma pequena capela no campo, abandonada e em ruínas, onde moravam dois sapos. Os sapos não costumam ser muito amistosos entre si, mas aqueles dois conviviam bastante bem, sem serem incomodados por outros batráquios. As poças d’água que inundavam o chão carcomido da capela lhes serviam de lagoa, e os insetos eram sempre abundantes.
Os sapos, naturalmente, gostavam de coaxar. Quando a luz da lua surgia por entre os buracos do telhado, eles se esforçavam em superar um ao outro com o seu martelar alto e monótono. Às vezes algumas fêmeas interessadas apareciam, mas quase sempre eles cantavam apenas pelo prazer da disputa.
Certa vez, após um dia abafado e quente, um temporal desabou sobre a capela. O vento uivava e a chuva despencava copiosa e pesada. Sapos não se importam com tempestades, mas daquela vez eles se assustaram com um estrondo e logo em seguida um tilintar musical. Acontece que a ventania, entrando pelas janelas, derrubara uma velha estante onde um pequeno sino de bronze, de há muito esquecido, fora arrancado dali e acabou por ficar suspenso por uma corrente, a centímetros do chão.
Quando o dia clareou os sapos foram examinar a novidade. Um deles, mais atrevido, aproximou-se do sino e o empurrou levemente. Suspenso no ar pela corrente, o sino sentiu-se livre para badalar, e foi o que fez. Soou um acorde único, ainda tímido, mas de uma pureza cristalina. Os sapos ficaram encantados e, tomando coragem, empurraram o sino com mais força. O sino não se fez de rogado e badalou fortemente. Imediatamente os sapos quiseram competir com o sino, e coaxaram tentando superá-lo, mas em vão. O sino sempre soava mais alto, mais claro e mais belo. Uma velha coruja, que também morava na capela, resolveu ajudar os anfíbios com uma explicação científica, coisa típica de coruja:
– Sinto muito – disse a coruja – mas vocês não vão conseguir superar este sino. Tenho os ouvidos treinados e, por isso, sei que ele badala muitos decibéis acima do coaxar de vocês.
– Que negócio de decibéis é esse? – Perguntaram, em uníssono, os sapos.
– O decibel é a décima parte do bel, uma maneira de medir a intensidade sonora. Na verdade, melhor seria usar o joule por metro quadrado ou o watt por metro quadrado, que são unidades do SI. Se vocês fossem sapos ingleses, saberiam que “bell” quer dizer sino.
– Então nós estamos lidando com o próprio inventor do som?
– Não! – Respondeu a coruja – Mas não deixa de ser curioso que o homem que desenvolveu o telefone se chamasse Alexander Graham Bell, do qual o nome Bel derivou. Mas essa é outra história.
– Quer dizer que não tem jeito da gente vencer este sino aqui?
– Não tem não! – Respondeu a coruja – É um sino excelente . Vejam, quando o badalo toca no seu corpo, este vibra harmoniosamente e a ressonância é muito mais intensa do que aquela que vocês conseguem produzir.
– Vibração? – Perguntaram novamente os sapos! Então é isso, só vibração?
– É claro, o que mais seria?
– Ora, se é apenas vibração, então é só a gente abafá-la!
E foi o que fizeram. Em vez de empurrarem o sino, os dois sapos se encostaram a ele e o balançaram com os seus corpos. Não podendo reverberar, o pobre sino nada pode fazer além de emitir um ruído seco e sem graça.
– Vencemos! – Disseram os sapos, felizes da vida.
– Assim são as coisas – Disse consigo a coruja, filosoficamente – No brejo como na vida, quando o coaxar não consegue suplantar a melodia, o jeito é calar a sua voz…
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