Helenos – 1 a 15
Os Helenos foram criados no início dos anos 1990 e publicados no encarte “Mau” da revista “Animal”, talvez a melhor, mais completa e mais democrática revista de histórias em quadrinhos já publicada no Brasil. A Animal era publicada pela VHD Diffusion Editorial e tinha como foco autores estrangeiros, sobretudo europeus.
O “Mau”, concebido como um fanzine, trazia textos, fotos, charges, cartoons e tiras de humor de autores nacionais. Trinta anos depois, revendo uns arquivos antigos, encontrei os originais de trinta tiras e resolvi dar continuidade ao projeto, o que significou redesenhar tudo e criar outras tiras novas, agora com o bem vindo auxilio dos aplicativos gráficos, coisa que àquela época mal existia. Três vivas à computação gráfica, agora acessível a todo mundo.
Por outro lado, a ideia de produzir tiras de humor usando como ambiente a Grécia Antiga tem muito a ver com a minha formação. Sempre fui apaixonado por mitologia grega (que para os antigos gregos não era mitologia, era religião), por conta da leitura precoce dos livros de Monteiro Lobato, como “O Minotauro” e “Os Doze Trabalhos de Hércules”. Acho que toda criança deveria ter acesso e poder ler as obras desse autor fundamental para a formação ética e cultural brasileira. Além disso, quando decidi fazer tiras sobre a Grécia Antiga eu estudava filosofia na USP, como segunda graduação, e uma das minhas disciplinas favoritas era, obviamente, “filosofia grega antiga”. Pronto, a partir daí desenvolvi os personagens que interagem nas tiras de “Os Helenos”.
O universo cultural da Grécia Antiga é riquíssimo, e tem para mim dois grandes atrativos: é o berço dos mitos, dos heróis, dos deuses, dos seres ctônicos, das guerras épicas, mas também da democracia, da filosofia, da retórica, da ética. Poder abordar esses assuntos todos usando o humor é fascinante e desafiador.
Por fim, tenho plena consciência de que apenas uma pequeníssima parte das leitoras e dos leitores de tiras em quadrinhos conhece suficientemente bem o tema para compreender todas as referências que encontrarão nos “Helenos”, a começar pelo nome. Para quem não se lembra, a Grécia se autodenomina “Ελλάδα”, ou “Ἑλλάς”, que nós transcrevemos como Hélada, Hélade, ou Helas, berço dos “helenos”. A origem desse nome também tem o seu mito correspondente, mas ficamos por aqui para não ter que ir muito fundo na etimologia. Por isso, mesmo sabendo que explicar piada não tem graça nenhuma, resolvi colocar um pequeno texto abaixo de cada tira, quando necessário, apenas para melhor situar leitoras e leitores sobre o assunto tratado. Mas se você achar desnecessário ou inconveniente, basta pular o texto e ir direto para a próxima tira.
Aqui, a ideia é ir publicando uma ou duas tiras por vez.
Montini
Os Personagens
Achei que seria interessante apresentar os personagens que interagem nas tiras, porque cada um deles tem a sua origem histórica ou mítica. Na medida em que forem aparecendo vou acrescentar, no comentário da tira, uma rápida explicação sobre o personagem.

O filósofo foi inspirado em Sócrates, talvez o mais popular e arquetípico filósofo grego do período clássico. O personagem tem algo de cínico, de estoico e de epicurista. É a figura central destas tiras.

A educação grega (paideia) era centrada na formação do cidadão grego e compreendia vários aspectos, de modo a educar a criança de maneira integral. As escolas eram elitizadas e se preocupavam sobretudo com o desenvolvimento físico, a música, a poesia e as tradições morais e religiosas, que se davam também nos festivais e no teatro. No período clássico deu-se maior atenção à aritmética, geometria, astronomia e música ( o quadrívio medieval), e à gramática, retórica e dialética (o trívio medieval).


A feiticeira Circe vivia na ilha de Ea. Ulisses, quando retornava de Guerra de Tróia, lá ficou hospedado. Circe costumava transformar em animais os náufragos ou visitantes que aportavam em sua ilha.



Os Titãs pertenciam à primeira geração de deuses. Eram filhos de Gaia e Urano (Terra e Céu), gigantescos e poderosos. Foram derrotados pelos deuses da segunda geração, ou Olímpicos, durante a Titanomaquia, guerra que Zeus moveu contra Cronos, seu pai.


Poseidon é um dos três deuses olímpicos que dividiram entre si o poder sobre o mundo. Zeus (Júpiter para os romanos), deus supremo, ficou com os céus e governa do monte Olimpo. Poseidon (Netuno para os romanos) domina os oceanos. Hades (Plutão para os romanos) é senhor do mundo subterrâneo.


Hércules realiza os seus famosos “doze trabalhos” a mando do rei de Micenas “Euristeu, por orientação do Oráculo, que por sua vez obedecia à Hera, deusa esposa de Zeus. Hera não perdoava a traição do marido por este ter se deitado com Alcmena disfarçado de Anfitrião, seu marido, enquanto este estava ausente, na guerra. A história é longa e intricada, como a maioria dos mitos gregos, pois todos eles estão relacionados de alguma forma. Vale a pena, entretanto, conhecê-la.




Os hecatônquiros (em grego: que têm cem mãos) eram três gigantes filhos de Urano e Gaia e irmãos dos doze titãs e dos três ciclopes. Seus nomes eram Briareu (“o vigoroso”), Coto (“o furioso”) e Giges (“o de grandes membros”). Possuíam cem mãos e cinquenta cabeças.