CROMATAS – O LIVRO

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No início do século treze um raro sobrevivente do povo Cromata escreve sobre a sua vida e a sua iniciação à religião dos Cromas, crença tão diversa das demais que os seus seguidores precisaram cultuá-la secretamente, escondendo-se entre os Cátaros do Languedoc.
Os Cátaros, por sua vez, perseguidos por cultuarem uma interpretação muito particular do cristianismo, herética para a Igreja Católica de então, foram vitimados pela única cruzada perpetrada contra cristãos.
A história dos Cátaros pode ser lida nos compêndios, a dos Cromatas é contada apenas neste livro.
A taça e a Vela
Frente a frente sobre a mesa estão a Taça e a Vela.
A Taça, cheia de graça, ostenta-se transparente. A Vela brilha silente, tremula a chama amarela. A Taça, volume cheio, e a Vela, figura tesa. A Taça bebida a meio e a Vela, de muito acesa. Enquanto uma leva o vinho a outra mostra o caminho, frente a frente sobre a mesa. A primeira já lá estava a decorar o ambiente. A segunda, reluzente, recém pousada dizia do vinho que a preenchia. Com seu olho flamejante, que a tudo e todos devassa, a Vela olhou para a Taça numa ameaça contida.
– Que fazes aqui, perdida, com teu conteúdo profano? – Interpelou-a em tom frio.
– Comemoro o Novo Ano! Mas, e tu, que tola ideia de queimar o teu pavio!
– Nem sempre se acendem velas por causa da escuridão! Embelezo o ambiente…
– Perdoa, penso que não! Com tua cabeça quente vais incendiar o salão!
– Serei eu quem se embriaga até perder a razão?
Mas enquanto sucedia tal disputa sobre a mesa, alguém (o dono da taça?) aproximou-se à francesa e dela (a taça) sorveu a bebida que trazia.
– Desgraça! – Zombou a Vela – Perdeste, duma só vez, o vinho e a companhia!
Porém, enquanto pousava, a taça, agora vazia, quis o azar que uma gota lhe escapasse, derradeira. Caiu, marota, e alojou-se na ígnea cabeleira. E assim morreu a querela: O vinho apagou a vela.