A taça e a Vela
Frente a frente sobre a mesa estão a Taça e a Vela.
A Taça, cheia de graça, ostenta-se transparente. A Vela brilha silente, tremula a chama amarela. A Taça, volume cheio, e a Vela, figura tesa. A Taça bebida a meio e a Vela, de muito acesa. Enquanto uma leva o vinho a outra mostra o caminho, frente a frente sobre a mesa. A primeira já lá estava a decorar o ambiente. A segunda, reluzente, recém pousada dizia do vinho que a preenchia. Com seu olho flamejante, que a tudo e todos devassa, a Vela olhou para a Taça numa ameaça contida.
– Que fazes aqui, perdida, com teu conteúdo profano? – Interpelou-a em tom frio.
– Comemoro o Novo Ano! Mas, e tu, que tola ideia de queimar o teu pavio!
– Nem sempre se acendem velas por causa da escuridão! Embelezo o ambiente…
– Perdoa, penso que não! Com tua cabeça quente vais incendiar o salão!
– Serei eu quem se embriaga até perder a razão?
Mas enquanto sucedia tal disputa sobre a mesa, alguém (o dono da taça?) aproximou-se à francesa e dela (a taça) sorveu a bebida que trazia.
– Desgraça! – Zombou a Vela – Perdeste, duma só vez, o vinho e a companhia!
Porém, enquanto pousava, a taça, agora vazia, quis o azar que uma gota lhe escapasse, derradeira. Caiu, marota, e alojou-se na ígnea cabeleira. E assim morreu a querela: O vinho apagou a vela.
Monteiro Lobato
Hoje, dia 18 de abril, é o Dia Nacional da literatura infantil e, também, do Livro Infantil. Não por acaso é o aniversário de nascimento de Monteiro Lobato, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.
Monteiro Lobato não foi apenas um escritor genial. Foi uma das personalidades mais patrióticas, instigantes, inteligentes e progressistas que o País já viu. Lutou contra tudo e contra todos, e foi até preso, por acreditar que o Brasil tinha petróleo e que era possível explorá-lo. Criou uma editora, numa época em que os livros eram editados fora do País. Inaugurou a literatura infantil por aqui ao criar todo um mundo de fantasia com personagens brasileiríssimos, descrito em linguagem acessível e atraente, e que é atual até hoje! Também nunca deixou de tentar educar as crianças através dos seus livros.
Lobato gostava de desenhar e queria ter sido artista plástico, mas acabou sendo advogado por imposição do avô, profissão que abandonou para ser fazendeiro e, depois, para nossa sorte, escritor. Legou aos seus leitores muito mais que o encantamento do universo mágico do sítio do Pica-pau amarelo.
Monteiro Lobato é o responsável pela formação intelectual de muita gente boa, e tenho orgulho de me incluir dentre esses seus devedores culturais. Li tudo o que ele escreveu, várias vezes, e agradeço ao meu pai a decisão de ter comprado as obras completas de Lobato quando eu ainda era criança. Como Lobato, também eu preferia ler a empinar pipa ou jogar bola, e também como ele sempre gostei de desenhar e escrever. As comparações, naturalmente, param por aqui.
É pena que, hoje, as crianças só tenham acesso ao universo do sítio por intermédio da TV, pois nada é mais divertido (e instrutivo) do que reler o que Monteiro Lobato escreveu.
Ufa! Escapamos!
Pois é, não foi nem desta vez… Mas não vamos perder as esperanças, um dia a gente ainda consegue detonar o planeta! Então, enquanto isso não acontece, vamos festejar mais um ano! Boas festas e feliz ano novo!